quinta-feira, 29 de abril de 2021

Como o processo de seleção das melhores forças especiais do mundo se diferencia das demais forças especiais?

 


Existem alguns bons canais de conteúdo militar falando sobre o processo seletivo das melhores forças especiais do mundo em português com excelente iniciativa. Hoje iremos aprofundar aqui ainda mais o assunto que parece ser bem desconhecido para os interessados brasileiros.

Vale lembrar novamente:  bravados e gritos sobre vibração, pagar cangurus, falar gírias militares e todo aquela coisa que qualquer um pode fazer não dizem NADA sobre forças especiais. Na verdade o processo de seleção da melhor unidade de forças especiais do mundo se diferencia por ser exatamente o oposto disso.

Como isto funciona e o que isso a diferencia das outras unidades de forças especiais?  Vejamos abaixo:

  1. Processo seletivo aberto a qualquer militar de qualquer patente, classe social ou unidade com o mínimo de três anos de serviço ativo com comportamento razoável e requisitos de idade. Do paraquedista ao rancheiro e corneteiro. Qualquer um pode entrar desde que passe nos processo seletivo. Sargentos e cabos perdem a sua patente e viram soldados,  soldados permanecem soldados e podem galgar a patente de cabos e sargentos,  oficiais mantem a mesma patente. Oficiais passam por um processo seletivo mais exigente por motivos óbvios (devem ter moral para liderar pelo exemplo, comandar e tomar decisões de alto risco). Não existe a necessidade de se fazer concurso publico para ser um militar de carreira e depois ingressar nas forças especiais (passando no curso) como acontece aqui no Brasil aonde um soldado NUNCA vai ter a chance de servir nas unidades de forças especiais (comandos, paraquedistas, precursores, militares de selva, montanhas e outros não são forças especiais)
  2. Ser um paraquedista não é algo obrigatório, pois o militar que ainda não for paraquedista vai receber treinamento para tal função desde o treinamento básico paraquedista ao salto livre.
  3. Ser um militar de uma unidade de comandos não é algo obrigatório, pois o militar vai receber este treinamento embutido na formação de forças especiais,
  4.  O militar que atua realmente na missão e esta na “lida” (muitas vezes soldados, cabos  e sargentos)  é aquele que realmente toma  as decisões na hore de atuar no campo operacional e não um militar oficial burocrata distante do campo de operação. Por qual motivo? O militar no campo a) tem mais informações sobre o que esta acontecendo em tempo real; b) arrisca a sua vida e dos seus subalternos  para cumprir a missão.  
  5. Hierarquia é usada como forma de estabelecer/manter controle e cadeia de comando e não usar soldados com escravos.
  6. A seleção é chamada de rejeição na verdade pois rejeita-se a maior parte que não serve para a unidade.
  7. Impessoalidade. Muitas vezes sem gritos, sem tentar motivar o militar para estar no processo seletivo, sem vibração. Faz quem quer, de livre vontade e tem motivação para tal sem ninguém gritado ao lado. Metas devem ser atingidas. Não atingiu vai ser desligado e pode pedir desligamento a qualquer hora sem teatro e simbolismo como fazem os Us Navy Seals (tocar o sino).
  8. Relativamente processo seletivo direto ao ponto e consistindo de fases: 1) Pré -seleção para testar nível básico de preparo físico; 2) Testes de marchas forçadas aumentando a distancia gradualmente em terreno montanhoso  e que incluem navegação (grande foco nessa parte); 3) Fase de de guerra na selva; 4) Fase de sobrevivência e resistência a interrogatório. Somente depois disso o militar é qualificado como operador de forças especiais mas ainda pode ser desligado dentro do prazo de um ano. Ao longo da jornada fases de nivelamento operacional são feitas e militares que não possuem formação em determinada especialidade passam por instruções especificas. Nem todas tem ralação.
  9. Divisão de conhecimento onde um militar passa conhecimento ao companheiro em determinado tipo de assunto e vice- versa (Cross training)
  10. Comando decentralizado e criatividade/ inovação ao executar missões são consideradas. Iniciativa é bem vinda ao tomar decisões sem depender de militar comandante.
  11. Constante treinamento em diversas áreas como proteção de dignitários, reconhecimento, inteligência, contraterrorismo, etc, buscando manter-se atualizado sem jamais cair no erro de “sabemos tudo”.
  12. Preparo físico de responsabilidade do próprio militar que deve manter-se em forma por iniciativa própria. Se afetar a performance, corre o risco de ser desligado e mandado de volta a unidade original de onde veio.
Quem seriam os militares desta unidade extretamente experiente e operacional? Leia aqui. 

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Selous Scouts: A melhor unidade de forças especiais africana


 Os Selous Scouts foram um regimento de forças especiais do Exército da Rodésia (hoje  Zimbábue) que operou de 1973 até a reconstituição do país como Zimbábue em 1980. Nomeado após o explorador britânico Frederick Selous (1851-1917), seu lema era pamwe chete — a Frase Shona que significa "todos juntos", "apenas juntos" ou "encaminhar juntos". Foram uma das melhores unidades de forças especiais do seu tempo.

A missão principal dos guerreiros dos Selous Scouts era "a eliminação clandestina do terrorismo dentro e fora do país".

Os Selous Scouts empregaram guerra assimétrica contra seu inimigo, ações que variaram de bombardeio de casas particulares, abduções, ataques da mina M18 Claymore contra alvos militares, sabotagem de pontes e ferrovias (incluindo motores a vapor), assassinatos, intimidação, chantagem e extorsão, até o uso de carros-bomba na tentativa de assassinato de Joshua Nkomo.

O trabalho da inteligência - uma outra importante tarefa dos Selous Scouts, bem como dos ramos especiais em geral - era descobrir a identidade dos insurgentes, seus planos, seus locais de treinamento, as partes envolvidas em treiná-los, a origem e localização de seus rotas de abastecimento, seus simpatizantes e qualquer outra informação relevante como quem os financiava, etc. 

O regimento foi proposto por membros do ramo especial da Polícia Britânica da África do Sul, e muitos de seus primeiros recrutas eram policiais. A Infantaria Ligeira da Rodésia também foi uma força motriz por trás dos Escoteiros Selous pois eram de onde muitos militares eram recrutados.

Seleção e treinamento

Os Selous Scouts eram uma força de reconhecimento de combate, com a missão de se infiltrar na população tribal da Rodésia e nas redes de guerrilha, identificando grupos rebeldes e retransmitindo informações vitais para as forças convencionais designadas para realizar os ataques reais. Os membros do regimento foram treinados para operar em pequenas equipes clandestinas, disfarçadas, capazes de trabalhar independentemente no mato por várias semanas e de se fazer passar por rebeldes. Eram uma força voluntária aonde oficiais selecionavam militares negros e brancos e de todas hierarquias de maneira nada convencional. Em uma ocasião, 14 de 126 candidatos foram aprovados no processo de seleção.

O armamento utilizado era o armamento comum dos anos 70 de muitos: FN FAL, metralhadoras MAG mas os militares igualmente aprendiam a utilizar armas do bloco comunista. Como existe escrito em um antigo manual, com bom material humano (militar) faz-se um bom operador de forças especiais.



Como Reid-Daly, o criador desta unidade,  afirmou: "um soldado de força especial tem que ser um certo tipo muito especial de homem. Em seu perfil é necessário buscar inteligência, força e coragem, potencial, lealdade, dedicação, um profundo senso de profissionalismo, maturidade - a idade ideal é de 24 a 32 anos - responsabilidade e autodisciplina ... "A pessoa que os Selous Scouts procuravam era uma mistura entre o soldado que pode trabalhar em uma unidade e um solitário que pode pensar e agir de forma independente e individual".



O curso de seleção dos Selous Scouts se baseou no que Reid Daly (foto acima) passou como operador do SAS britânico, mas foi levado muito além disso. Nenhuma provisão era emitida para os primeiros cinco dias do curso. Os recrutas tinham que viver da terra. Então, no quinto dia, eles geralmente recebiam uma carcaça de babuíno que era deixada para apodrecer ao sol por três dias. Os recrutas tinham que preparar a carne podre e comê-la. Durante os 13 dias restantes, eles recebiam rações consistindo de apenas um sexto da ingestão diária normal de um homem. Os recrutas foram forçados a fazer do mato seu próprio habitat. Comer todos os tipos de animais e - em tempos de escassez de água - até beber a água do estômago de animais mortos. Mais tarde, em situações reais de combate, os escoteiros foram proibidos de atirar em animais para evitar de atrair o inimigo. 



Quando os voluntários de qualquer hierarquia  chegaram a Wafa Wafa, o campo de treinamento dos Selous Scouts, nas margens do Lago Kariba eles tinham uma amostra das dificuldades que teriam de enfrentar suportar.  Wafa Wafa, vindo da língua Shona significa basicamente - “QUEM MORRE MORRE, QUEM FICA PARA TRÁS FICA PARA TRÁS”. Ao chegar à base - que ficava a 25 quilômetros (16 milhas) de distância do ponto de chegada - eles viam apenas algumas cabanas de palha e as brasas enegrecidas de uma fogueira em extinção. Nenhum alimento era distribuído. O objetivo do treinamento neste ponto era reduzir o número de recrutas potenciais matando-os de fome, exaurindo-os e antagonizando-os. Durante a maioria dos cursos de seleção, 80 por cento dos recrutas desistiam depois de apenas dois dias.

O curso de seleção tinha duração total de 17 dias. Do amanhecer às 7 da manhã, os recrutas eram submetidos a um programa de condicionamento físico que visava esgota-los fisicamente e mentalmente. Depois de completarem isso, eles treinavam habilidades básicas de combate. Eles também eram obrigados a percorrer um curso difícil de assalto várias vezes durante o programa de treinamento. O curso foi planejado para superar o medo de altura. Quando a escuridão caia, eles começavam o treinamento noturno. No final do treinamento, eles tinham que realizar uma marcha de resistência de 100 quilômetros (62 milhas). Cada voluntário carregava 30 kg (66 libras) de pedras em suas mochilas. As rochas eram pintadas de vermelho, para garantir que não pudessem ser removidas e recolocadas no final.



A etapa final da marcha era uma marcha rápida e tinha que ser concluída em duas horas e meia. Para os que sobrevivessem hoje, havia uma semana de férias; eles eram então levados para um acampamento especial para a "fase obscura" de seu treinamento. Neste acampamento, eles aprendiam a agir e falar como o inimigo. A base era construída e estabelecida como um acampamento rebelde, e os instrutores os ensinavam a agir como os grupos inimigos. Nesta fase, os recrutas eram ensinados a romper com hábitos como fazer a barba, levantar-se em horários regulares, vestirem-se como civis e guerrilheiros, fumar e beber e adotar um estilo de vida de guerrilha. 

ESBOÇO DO CURRÍCULO DO CURSO

FASE UM

TREINAMENTO BÁSICO REGIMENTAL (SELOUS SCOUTS)

FASE DOIS

CURSO DE SELEÇÃO COM RECUPERAÇÃO - 3 SEMANAS

CURSO DE RASTREAMENTO E GUERRA  NO MATO ( BUSH WAR - 2 SEMANAS

FASE TRÊS / "FASE ESCURA"

TREINAMENTO PSEUDO-TERRORISTA - 2 SEMANAS

FASE QUATRO

CURSO DE TREINAMENTO DE PÁRA-QUEDAS (LINHA ESTÁTICA) - 3 SEMANAS

FASE CINCO / TREINAMENTO DE HABILIDADES AVANÇADAS

CURSO DE PÁRA-QUEDA (SALTO LIVRE) 

CURSO DE MERGULHO DE COMBATE 

O TEMPO TOTAL DESPERDIÇADO RAPIDAMENTE, PARA UM NOVO RECRUTA SEM EXPERIÊNCIA PRÉVIA, É OITO E MEIO MESES DE TREINAMENTO INTEGRAL PARA PRODUZIR UM NÍVEL BÁSICO DE ENTRADA SELOUS ESCOUT

Unidade controversa e irregular

Os Scouts diferiam do C Squadron 22 (Rhodesian) SAS, porque foi formado especificamente para participar de operações de rastreamento e infiltração, onde os soldados fingiam ser guerrilheiros - ou pseudo-operadores. Essas táticas foram usadas com muito sucesso na Revolta Mau Mau. Na verdade, o regimento também recrutou forças inimigas; guerrilheiros capturados foram oferecidos a escolha entre prisão, julgamento e possivelmente execução ou a capacidade de se juntar aos Scouts.

Este conceito foi inicialmente altamente controverso dentro do governo da Rodésia; a ideia de "transformar" guerrilheiros capturados em vez de puni-los era desagradável para alguns. No entanto, os defensores da "conversão", que tiveram sucesso na implementação de seus planos, retrataram essas operações como um aspecto da contra-insurgência semelhante ao uso de informantes pela aplicação da lei para penetrar e desmantelar organizações criminosas e subversivas.

A fim de manter o conhecimento de sua existência o mais restrito possível, guerrilheiros "reformados" eram pagos com fundos secretos do goveno que não prestavam contas aos auditores, e os voluntários da unidade não eram informados de sua função real até que realmente ingressassem em alguns casos, onde guerrilheiros capturados já haviam entrado no sistema judicial, os Selous Scouts fingiam sua fuga sem informar ao Departamento de Investigação Criminal. 

Para evitar que o exército regular ou a polícia disparem contra o regimento enquanto ele estiver operando, as autoridades declarariam "áreas restritas", onde todas as unidades convencionais do Exército e da Polícia recebiam ordens de cessar temporariamente todas as operações e retirar-se, sem serem informadas dos motivos reais.  Muitos comandantes sentiram que o início das "áreas restritas" cedeu o controle ao inimigo e reduziu a iniciativa das forças de segurança.

Em imagens antigas desta unidade podemos ver militares operando vestindo calções, algo comum em unidades africandas durente aquele tempo. 

Como podemoer ver, era uma unidade muito irregular e bem longe da imagem daqule militar convencional, barba feita, coturno brilhante e farda engomada. Foi uma das melhores unidades de forças especiais do seu tempo.

Os recrutas iniciavam a operar em patrulha com os Selous Scouts apenas uma semana após a conclusão de seu treinamento. Nos 7 anos de existência desta unidade de elite que operava em uma guerra real, apenas 15 por cento dos voluntários conseguiram passar da fase de seleção e foram agraciados com o título de operador dos Selous Scouts. 

A unidade teve sem fim quando a guerra acabou. A guerra terminou quando, a pedido da África do Sul (seu maior apoiador) e dos Estados Unidos, o governo do Zimbábue-Rodesiano cedeu o poder à Grã-Bretanha no Acordo de Lancaster House em dezembro de 1979. O governo do Reino Unido realizou outra eleição em 1980 para formar um novo governo. A eleição foi vencida pela ZANU.