domingo, 31 de dezembro de 2017

SAS: guerra na selva e o treinamento das tropas inglesas para o combate na selva


Quando pessoas comentam sobre guerra na selva,desinformados e desinformadas pensam que somente o Brasil possui unidades militares que operam neste ambiente operacional. Ufanismo e falta de conhecimento parecem ser a principal causa destes atos inocentes.

Selvas existem ao redor do planeta e muitos lugares possuem unidades especializadas em guerra na selva.

O Reino Unido, embora seja distante geograficamente da selva possui unidades especializadas e que operam na selva desde a II guera antes do CIGS ser criado. E para ser parte do SAS, o militar deve passar por um duro treinamento neste ambiente durante a segunda fase do processo seletivo.

As tropas inglesas possuem um dos maiores e mais significativos repertórios de experiência em combate em selvas tropicais do mundo.

Desde que se tornou uma potência naval o Reino Unido enviou tropas para projetar poder nas selvas da América Central, África, Índia, Sudeste Asiático e Oceania. Essas experiências levaram os ingleses a perceber a elevada complexidade e dificuldade de operar nesse tipo de floresta. Observando um passado recente, algumas experiências merecem destaque:

1.A tropa dos chindits, considerada a maior tropa de operações especiais da II Guerra Mundial, foi formada e liderada pelo Maj Gen Orde Wingate para lutar contra os japoneses na Birmânia.
Empregando táticas de guerrilha; quebraram o mito da invencibilidade japonesa nos combates de selva. As duas principais expedições; Operação Longcloth (1943) e Operação Thursday(1944) foram caracterizadas pelo emprego de enormes efetivos realizando infiltrações de longo alcance para operar atrás das linhas japonesas. As operações foram marcadas por marchas prolongadas em terreno extremamente difícil, realizadas por tropas com alimentação restrita e desgasta por doenças como a malária e disenteria.

2.A Emergência Malaia ( Malayan Emergency), combate de guerrilha travado
entre as tropas da Comunidade Britânica (Commonwealth) e o Exército de Libertação Nacional Malaio (Malayan National Liberation Army -MNLA), o braço armado do Partido Comunista Malaio (Malayan Communist Party-MCP), de 1948 a 1960; ao final, os comunistas foram derrotados. O SAS estava presente neste conflito

3.Confronto Malásia-Indonésia entre 1962–1966 a Malasia e a Indonésia se
enfrentaram em um conflito não declarado que envolveu tropas da Austrália,
Nova Zelândia e Reino Unido. O conflito consistiu na oposição política e armada da Indonésia à criação da Federação da Malásia que representava a manutenção da área de influência britânica na região, apesar da independência formal de suas colônias no sudeste asiático, o resultado foi favorável ao Reino Unido. O SAS participou deste conflito;

4.Apesar de estar saindo de dois conflitos desgastantes, os britânicos apoiaram seus os estados Unidos, seus aliados históricos e enviaram um modesto contingente para a Guerra do Vietnam, visando compartilhar os ensinamentos de suas experiências recentes na Oceania e Malásia.

5.A Operação Barras (Operation Barras) foi uma operação das Forças Armadas Britânicas ocorrida em Serra Leoa em setembro de 2000. O objetivo era resgatar cinco soldados britânicos do “Royal Irish Regiment” que haviam sido capturados pelo grupo miliciano “West Side Boys”. Os militares integravam uma patrulha que retornava de uma visita às tropas jordanianas integrantes da missão de paz da missão da ONU (United Nations Mission in Sierra Leone -UNAMSIL) em Masiaka no dia 25 de agosto de 2000 quando foram capturados pelos rebeldes e levados para uma área remota (Gberi Bana). Devido ao insucesso nas negociações e temendo que os militares fossem transferidos para local ignorado,
o Governo Britânico autorizou o desencadeamento do resgate que foi executado a 10 de setembro do mesmo ano. Na operação participaram O Esquadrão D do 22º Regimento do SAS (D Squadron, 22 Regiment Special Air Service) e uma Companhia do 1º Regimento de Paraquedistas ( 1 PARA). Como saldo, a Operação Barras libertou os cinco soldados capturados além de vinte e um civis sequestrados pelos rebeldes. Durante o assalto, morreram 25 integrantes da
facção e 18 foram aprisionados juntamente com seu líder, Foday Kallay e
entregues às Forças de Segurança de Serra Leoa. 1 soldado inglês morreu na operação. Nas semanas seguintes, vários rebeldes abandonaram a área e 300 se renderam ás forças da ONU (UNAMSIL).

6.Embora não seja uma área se selva tropical, os ingleses afirmaram que a
“ Green Zone” do Iraque é uma região onde eles tem aplicado constantemente técnicas, táticas e procedimentos de operações na selva,
particularmente, rastreamento, devido á densidade da vegetação. Por isso,
algumas de suas tropas tem realizado instruções no centro de treinamento
de Brunei antes de entrar na área de operações. Devido a isso, sempre tiveram uma atenção especial em manter centros de treinamento permanentes onde pudessem enviar suas tropas. Até o final de 2010 as Forças Armadas do Reino Unido possuíam três centros de treinamento de combate em selva em três continentes diferentes: British Army Training Support Unit Belize (BATSUB), em Belize; o British Army Training and Liaison Staff Kenya (BATLSK), no Quênia; e o Jungle Warfare Wing (JWW), em Brunei-ilha de Borneo.
Em 2010 o BATSUB foi visitado por dois militares do Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS) e em seguida enviou uma comitiva para visitar a escola brasileira situada em Manaus. No ano seguinte, dois integrantes do exército inglês frequentaram o Curso de Operações na Selva em Manaus-AM.
A existência desses três centros de treinamento também serviam para projetar poder militar inglês e manter área de influência da coroa inglesa. Entretanto, os elevados custos logísticos e a evolução do cenário internacional levaram os ingleses a rever suas necessidades, levando ao fechamento do BATSUB em novembro de 2011. Naquela oportunidade, foi realizada uma grande doação de equipamentos para as Forças de Defesa de Belize (BDF-Belize Defense Forces).
Apesar do fechamento do BATSUB, os ingleses permanecem enviando tropas para realizar treinamentos nas florestas de Belize, ainda que em menor escala.
Considerando-se um escalonamento da qualidade e quantidade do aporte de meios, as forças armadas inglesas sempre priorizaram o JWW, seguido pelo BATSUB e , por fim, o BATLSK.
Segundo os ingleses, o ambiente de selva é considerado um dos mais difíceis e sensíveis para a condução de operações. Uma dessas evidências é que o curso de formação do SAS (Special Air Service - Forças Especiais Inglesas), com reputação reconhecida internacionalmente, realiza um treinamento de seis semanas na escola de Brunei; sendo o ambiente operacional em que os alunos permanecem mais tempo dentre todos (montanha, desertos, neve, dentre outros).
Cartão de controle dos alunos no BATSUB.

Jungle Warfare Instructors Course

O JWW tem suas origens no “Bush Warfare Schools “da II Guerra Mundial.
Atualmente é um centro de instrução de rastreamento e operações na selva.
Os ingleses possuem basicamente 4 módulos de instrução que foram replicados no BATSUB e no BATLSK direcionados para Operações na Selva e rastreamento. O Jungle Warfare Instructors Course tem a duração de 6 semanas. O objetivo do curso é treinar ,selecionar e capacitar oficiais e sargentos no planejamento, supervisão e condução de treinamentos de escalão até subunidades a operar em ambiente de selva tropical de acordo com as táticas e doutrinas vigentes.
No contexto atual do Exército britânico, desde 2003 houve uma redução
na ênfase no treinamento sem selva devido a natureza das operações atuais
no Afeganistão, a partir de 2008 tem sido enfatizada uma aliança na
segurança global, técnicas de rastreamento e as tropas especiais como
SAS tem priorizado treinamentos dos fundamentos como tiro e orientação
por exemplo.
O curso é dividido em várias fases distintas. O período de adaptação destina-se a facilitar a aclimatação doa militares, realização de exames técnicos individuais , instruções teóricas introdutórias e participação de um dia prático de sobrevivência na selva (Survival Day). Já na fase de desenvolvimento de habilidades iniciais o militar tem contato com a confecção de abrigos e armadilhas, orientação/navegação, módulos de tiro na selva,
transposição de obstáculos e cursos d´ água , comunicações e exercício de comando de esquadras e grupos de combate. Na fase intermediária, são
realizados exercícios de comando nível pelotão, planejamento e execução
de transposição de curso d´água com pelotão, treino de assalto(diurno
e noturno) com munição festim/real, emboscada com munição festim/
real, operações ribeirinhas (ambiente aquático). Logo em seguida tem inicio
a fase avançada do curso com a realização de patrulha de combate,
noções de rastreamento, técnicas de ação imediata, reconhecimento em
força, patrulha de reconhecimento, Exercício Desafio Chindit . O momento
mais esperado do curso é o exercício final (Final Exercise- FINEX), onde
os militares são submetidos a uma patrulha de longo alcance e longa duração
com planejamento complexo, empregando integração de diferentes formas de infiltração e de difícil coordenação e controle.
A fase de desmobilização do curso merece uma atenção especial. Os ingleses tem uma atenção especial com a manutenção do moral da tropa elevado e procuram proporcionar as melhores condições de arejamento para seus militares e alunos dos cursos e adestramentos. Em Belize, por exemplo, havia um Centro de Aventuras (Adventure Center) com excelente infra estrutura para mergulho e canoagem, além de outras áreas usadas para práticas de rapel, montanhismo
e turismo arqueológico nas ruínas maias.Vista aérea do centro de laser de esportes aquáticos do BATSUB.

Uma das grandes preocupações do Comando do BATSUB era o fato de Belize estar dentro da rota dos furacões. Anualmente, no segundo semestre várias atividades só eram confirmadas após a consulta do boletim meteorológico.

Outros Treinamentos

Além do tradicional curso de operações na selva apresentado os ingleses
conduzem cursos multinacionais (República Tcheca, Noruega, Canadá,
Alemanha, Espanha, Holanda, Austrália, Irlanda, Kênia, Polônia, Indonésia,
Filipinas, Bangladesh, Reino Unido); treinamentos para forças de operações especiais em selva (SAS, SBS,...); adestramentos para Fuzileiros Navais; exercícios básicos de Infantaria; adestramentos para Engenharia de Construção; exercícios de Comunicações nível estratégico (Comando e Controle); treinamento de desminagem e destruição de engenhos falhados; exercício de sobrevivência, evasão, resistência e extração para tripulantes de aeronaves; e adestramento de mergulho e canoagem como infiltração/exfiltração no mar.
Apesar de estarem atualmente com foco nas operações em ambiente desértico e montanhoso do Afeganistão, o Exército britânico permanece sendo um dos maiores detentores da expertise de operações e treinamento na selva. Para isso, não mede esforços em manter bases de treinamento em outros continentes
que proporcionam cursos para seus quadros e oportunidade de adestramento
para frações constituídas. O país é reconhecido internacionalmente pela sua excepcional performance nas operações recentes em selva e projeta essa imagem durante seus cursos multinacionais.

Um comentário:

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